Inovação e Mercado

29 de September de 2025

Biodiesel além da frota: uso em termelétricas e transporte aquaviário

O biodiesel brasileiro, já utilizado no transporte rodoviário, vem ampliando suas fronteiras de aplicação e mostrando viabilidade em setores estratégicos como a geração termelétrica e o transporte aquaviário. Trata-se de uma evolução natural em um país que possui capacidade produtiva superior a 15 bilhões de litros por ano, mas que ainda utiliza menos de 60% desse potencial.

No segmento elétrico, experiências recentes comprovam que o biodiesel pode operar em grandes motores de termelétricas sem restrições técnicas significativas. Fabricantes internacionais, como a finlandesa Wärtsilä e a Man Energy Solutions, já homologaram equipamentos para o uso de combustíveis líquidos renováveis, reforçando que não há barreira tecnológica. Além disso, o uso em termelétricas oferece resiliência em períodos de escassez hídrica, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis importados e garantindo maior segurança energética.

O transporte aquaviário também desponta como fronteira de inovação. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a demanda de biodiesel para uso em embarcações poderá alcançar 1,5 bilhão de litros até 2035. A Petrobras já realizou testes com bunker (combustível marítimo) contendo 24% de biodiesel na composição em um Porto de Rio Grande (RS) e, em Singapura, em parceria com a Vale, sinalizando a viabilidade técnica e econômica do produto nesse setor.

Projetos urbanos como frotas de ônibus movidas a B100 comprovam que o biodiesel puro pode operar com eficiência em larga escala. O mesmo ocorre no setor logístico, em que parcerias como a estabelecida entre Binatural e Catto Transportes mostram o potencial de rotas 100% sustentáveis, desde o combustível até a carga transportada.

Os impactos dessa diversificação são claros: redução de emissões, fortalecimento da indústria nacional, estímulo à agricultura familiar e economia de divisas com importação de diesel fóssil. Desde 2005, o setor já evitou a emissão de 240 milhões de toneladas de CO₂ e economizou cerca de US$ 38 bilhões em importações. Cada R$ 1 investido em biodiesel retorna R$ 4,4 para o PIB brasileiro, segundo dados do setor.

Apesar dessa trajetória, o debate regulatório ainda expõe contradições. A exclusão dos biocombustíveis líquidos dos próximos Leilões de Reserva de Capacidade (LRCAP) para termelétricas gera uma percepção de contradição[VM1] , sobretudo em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30. Em vez de aproveitar uma solução consolidada e competitiva, o país corre o risco de ampliar a participação de fontes mais poluentes, como carvão e óleo combustível, na matriz elétrica.

O desafio é transformar a viabilidade técnica em prioridade política. Incorporar o biodiesel às termelétricas e ao transporte aquaviário não é apenas uma opção ambientalmente correta: é uma decisão estratégica para diversificar usos, consolidar a liderança brasileira em energia renovável e apresentar ao mundo, na COP30, que já temos soluções concretas para a transição energética.


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