Edição de setembro de 2025

Mensagem de Liderança

É uma alegria apresentar mais uma edição do Radar Binatural do Biodiesel, tão próximo aos preparativos finais para as discussões da COP30. O setor de biocombustíveis terá papel central nesse debate, com destaque ao biodiesel, que se apresenta como uma solução concreta de soberania energética, inclusão social e transição justa. Nossa missão é contribuir para qualificar essa discussão, trazendo dados, análises e reflexões que reforcem o protagonismo do Brasil na agenda climática e energética global.

André Lavor

André Lavor

Biodiesel como ativo estratégico: soberania energética, transição justa e liderança do Brasil nas discussões da COP30

Crises geopolíticas recentes, da guerra no Leste Europeu às instabilidades no Oriente Médio, expuseram a vulnerabilidade das economias altamente dependentes de petróleo e gás importados. Em 2022, por exemplo, o preço médio do barril do petróleo Brent chegou a ultrapassar US$ 120, gerando impactos severos em países sem produção doméstica robusta.

Esse cenário evidenciou ainda mais a importância de alternativas renováveis e locais, capazes de mitigar riscos de suprimento e volatilidade de preços. Nesse contexto, os biocombustíveis, e em especial o biodiesel, vem se consolidando de forma crescente como instrumento de soberania energética, política industrial e transição climática justa.

Produzido a partir de matérias-primas renováveis, o biodiesel possui um diferencial que vai além da redução de emissões. Ele movimenta economias locais, distribui renda em territórios vulneráveis e fortalece a autonomia do país diante das instabilidades globais. Cada litro produzido representa mais do que energia renovável: é um investimento em comunidades, saúde pública e segurança energética nacional.

No Brasil, o consumo anual superior a 9,1 bilhões de litros em 2024, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), já substitui parte expressiva do diesel fóssil, reduzindo importações e movimentando uma cadeia que inclui mais de 60 usinas e cerca de 300 mil agricultores familiares. A implementação da mistura de 15% do biodiesel ao diesel, chamado de B15, em agosto deste ano foi um passo importante para o fortalecimento da matriz energética nacional, mas ainda temos muito a avançar frente a outros países. Dados internacionais reforçam a viabilidade de percentuais superiores.

Contexto global e impactos mensurados

A Indonésia opera hoje com B40 e estuda atingir B50 até 2026, reduzindo gastos com importações de diesel fóssil e consolidando sua balança comercial de energia. Nos Estados Unidos, programas estaduais e federais consolidaram o B20 como padrão em frotas de transporte público e caminhões pesados, garantindo estabilidade de preços e diversificação da matriz. Na União Europeia, países, como a França, avançam em percentuais de B20 a B30 em rotas específicas, alinhados a metas de neutralidade de carbono até 2050. Em comparação, o Brasil, mesmo sendo líder em condições de produção e disponibilidade de matérias-primas, ainda se encontra aquém dessas metas, o que reforça o potencial de expansão.

A diversificação de usos também é um ponto de destaque. No setor elétrico, termelétricas brasileiras já operaram com biodiesel, provando sua eficiência em complementar a matriz. No transporte marítimo, segmento responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, o uso experimental de misturas superiores ao B20 em embarcações tem mostrado resultados positivos, com redução expressiva de emissões.

Os impactos positivos já são constatados. Em 2024, o biodiesel consumido no mercado brasileiro evitou que aproximadamente 26,8 milhões de toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera, do acordo com a EPE. Estimativas do governo apontam que esse resultado representa a prevenção anual de centenas mortes prematuras por doenças respiratórias e cardiovasculares, além da economia de centenas de milhões de reais em gastos hospitalares. Do ponto de vista social, a inclusão de agricultores familiares na cadeia produtiva se traduz em geração de renda estável, contratos de fornecimento de longo prazo e dinamização econômica em regiões de baixa industrialização.

De olho na COP30

A última edição do evento, a COP29, estabeleceu novos patamares para os recursos destinados aos países em desenvolvimento, além de avançar em mercados de carbono e compromissos climáticos globais. Esse avanço cria a base sobre a qual a COP30 deve se apoiar: ampliar conquistas, aumentar a ambição nas metas e garantir que a transição energética ocorra de forma justa e eficaz. Nesse cenário, o Brasil tem diante de si uma oportunidade histórica para mostrar liderança, reconstruir a confiança mundial e reforçar o papel do Sul Global como protagonista da ação climática.

O desafio agora é reposicionar o biodiesel no debate climático internacional. A COP30 será palco de discussões sobre rotas tecnológicas, eletrificação, hidrogênio, biocombustíveis, e o Brasil terá a oportunidade de apresentar um modelo plural, inclusivo e adaptado às realidades do mercado. Levar o biodiesel às mesas de negociação significa defender não apenas uma solução de mitigação, mas um vetor de desenvolvimento que integra clima, economia e inclusão social.

Essa posição ganha ainda mais força diante do contexto internacional. Enquanto muitos países ainda não cumpriram suas metas do Acordo de Paris, o Brasil pode chegar a Belém com resultados tangíveis: uma política pública consolidada, com ganhos ambientais, sociais e econômicos já mensuráveis. Em um cenário de metas adiadas, o biodiesel é a prova concreta de como se faz.

Mas esse protagonismo não é apenas externo. Dentro do Brasil, políticas energéticas ainda refletem a forte presença das fontes fósseis, ao mesmo tempo em que convivem com avanços importantes e também alguns entraves. Levar o biodiesel à COP30, portanto, significa também reafirmar internamente o compromisso com a previsibilidade regulatória, com o aumento progressivo da mistura obrigatória e com a valorização da agricultura familiar como parte da transição justa.

O biodiesel é a ferramenta que permite ao Brasil articular essa agenda não apenas pelo exemplo técnico, mas pela força política de propor uma transição plural, justa e soberana. Na COP30, será a oportunidade de mostrar ao mundo que o país não apenas sonha com um futuro sustentável: ele já o constrói cotidianamente, em suas estradas, em suas usinas e em seus campos. É hora de transformar essa experiência em liderança global.

Biodiesel além da frota: uso em termelétricas e transporte aquaviário

O biodiesel brasileiro, já utilizado no transporte rodoviário, vem ampliando suas fronteiras de aplicação e mostrando viabilidade em setores estratégicos como a geração termelétrica e o transporte aquaviário. Trata-se de uma evolução natural em um país que possui capacidade produtiva superior a 15 bilhões de litros por ano, mas que ainda utiliza menos de 60% desse potencial.

No segmento elétrico, experiências recentes comprovam que o biodiesel pode operar em grandes motores de termelétricas sem restrições técnicas significativas. Fabricantes internacionais, como a finlandesa Wärtsilä e a Man Energy Solutions, já homologaram equipamentos para o uso de combustíveis líquidos renováveis, reforçando que não há barreira tecnológica. Além disso, o uso em termelétricas oferece resiliência em períodos de escassez hídrica, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis importados e garantindo maior segurança energética.

O transporte aquaviário também desponta como fronteira de inovação. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a demanda de biodiesel para uso em embarcações poderá alcançar 1,5 bilhão de litros até 2035. A Petrobras já realizou testes com bunker (combustível marítimo) contendo 24% de biodiesel na composição em um Porto de Rio Grande (RS) e, em Singapura, em parceria com a Vale, sinalizando a viabilidade técnica e econômica do produto nesse setor.

Projetos urbanos como frotas de ônibus movidas a B100 comprovam que o biodiesel puro pode operar com eficiência em larga escala. O mesmo ocorre no setor logístico, em que parcerias como a estabelecida entre Binatural e Catto Transportes mostram o potencial de rotas 100% sustentáveis, desde o combustível até a carga transportada.

Os impactos dessa diversificação são claros: redução de emissões, fortalecimento da indústria nacional, estímulo à agricultura familiar e economia de divisas com importação de diesel fóssil. Desde 2005, o setor já evitou a emissão de 240 milhões de toneladas de CO₂ e economizou cerca de US$ 38 bilhões em importações. Cada R$ 1 investido em biodiesel retorna R$ 4,4 para o PIB brasileiro, segundo dados do setor.

Apesar dessa trajetória, o debate regulatório ainda expõe contradições. A exclusão dos biocombustíveis líquidos dos próximos Leilões de Reserva de Capacidade (LRCAP) para termelétricas gera uma percepção de contradição[VM1] , sobretudo em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30. Em vez de aproveitar uma solução consolidada e competitiva, o país corre o risco de ampliar a participação de fontes mais poluentes, como carvão e óleo combustível, na matriz elétrica.

O desafio é transformar a viabilidade técnica em prioridade política. Incorporar o biodiesel às termelétricas e ao transporte aquaviário não é apenas uma opção ambientalmente correta: é uma decisão estratégica para diversificar usos, consolidar a liderança brasileira em energia renovável e apresentar ao mundo, na COP30, que já temos soluções concretas para a transição energética.


Glicerina bruta: o coproduto do biodiesel que movimenta milhões no Brasil

Pouco conhecida fora da cadeia produtiva, a glicerina bruta é um dos coprodutos mais relevantes da produção de biodiesel no Brasil. Obtida diretamente no processo de fabricação do biocombustível, ela tem se consolidado como um ativo econômico estratégico, especialmente no mercado internacional.

De acordo com dados oficiais, em 2024 o Brasil exportou cerca de 598 mil toneladas de glicerina bruta, com preço médio de US$ 400 por tonelada. Essa movimentação resultou em um faturamento de aproximadamente US$ 240 milhões para as empresas do setor. Trata-se de um valor que mostra o peso econômico de um insumo ainda pouco conhecido pelo grande público, mas já consolidado como ativo estratégico na pauta exportadora.

O avanço das exportações reforça dois pontos centrais. Primeiro, a importância da glicerina como instrumento de diversificação da cadeia do biodiesel, capaz de ampliar receitas e fortalecer a balança comercial. Em segundo, seu papel como exemplo concreto de economia circular: ao aproveitar integralmente os recursos utilizados na produção de biodiesel, evita-se o desperdício e se cria valor adicional em setores que também buscam reduzir pegadas ambientais.

Com o aumento previsto da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, a produção de glicerina também deve crescer, abrindo espaço para novas oportunidades industriais e comerciais. Cada incremento no consumo de biodiesel significa mais glicerina disponível para atender segmentos globais em expansão, de cosméticos sustentáveis a embalagens biodegradáveis.

Para que esse potencial seja plenamente explorado, será necessário maior investimento em tecnologia, políticas públicas que incentivem a agregação de valor e estratégias de internacionalização que consolidem o Brasil não apenas como fornecedor de matéria-prima, mas como player global em soluções de bioeconomia.

A glicerina bruta talvez seja invisível aos olhos do consumidor, mas não aos da economia. Ela simboliza como a inovação em torno dos biocombustíveis pode ir além da energia limpa e se transformar em vetor de competitividade internacional, geração de emprego e sustentabilidade. No coração da cadeia do biodiesel, o país tem a chance de transformar esse coproduto em um dos pilares de sua economia verde.

Binatural na Amazônia e novas frentes de cooperação

A Binatural tem reforçado sua atuação na Amazônia, explorando oportunidades de cooperação que unem impacto social, inovação em bioeconomia e geração de valor sustentável. Em suas recentes viagens à região, o CEO da companhia, André Lavor, ressaltou que a Amazônia e o biodiesel compartilham características essenciais: ambos são ativos genuinamente brasileiros, construídos a partir de recursos locais, de saberes tradicionais e de cadeias produtivas que geram desenvolvimento no território.

A presença da empresa na região tem se consolidado por meio de parcerias com cooperativas de agricultores familiares, como a Bio+Açaí, no Amapá. O projeto beneficia mais de 800 famílias ribeirinhas, oferecendo assistência técnica, apoio financeiro e serviços sociais básicos, como saúde e educação, em áreas de difícil acesso. Nos últimos anos, a iniciativa movimentou mais de R$ 52 milhões na economia local e gerou impactos diretos em qualidade de vida, produtividade agrícola e inclusão social. A expectativa é expandir esse modelo também para outras comunidades, fortalecendo o elo entre agricultura familiar, preservação ambiental e mercado consumidor.

“Numa visita recente a uma comunidade na Serra do Navio, no Amapá, a alguns quilômetros da capital Macapá, conheci Antônio Sérgio, um jovem de 22 anos. Graças a um treinamento de assistência técnica oferecido pela Binatural, por meio do Selo Biocombustível Social, Antônio se tornou técnico agrícola. E, hoje, trabalha na própria região onde nasceu.  Essa história representa aquilo em que acreditamos: a transição energética justa começa no campo, gerando emprego e renda para que nossos jovens permaneçam próximos às suas famílias e contribuam para o desenvolvimento local”, conta Lavor. 

Além da valorização de produtos da biodiversidade amazônica, as visitas de André Lavor têm sido estratégicas para mapear oportunidades de integração entre o setor de biodiesel e cadeias locais de resíduos agrícolas. O aproveitamento de insumos como cascas de oleaginosas, fibras vegetais e coprodutos agroflorestais representa um caminho promissor para transformar resíduos em energia limpa, reduzindo desperdícios e ampliando a competitividade da região. Essa abordagem reforça a lógica da bioeconomia: usar de forma inteligente os recursos abundantes da Amazônia, conciliando geração de renda e conservação ambiental.

No plano institucional, a aproximação com a Amcham Brasil, por meio da participação da Binatural em fóruns voltados para a COP30, tem sido fundamental para inserir a pauta amazônica nas discussões globais sobre transição energética. A empresa vem defendendo que o Brasil deve apresentar ao mundo não apenas metas de descarbonização, mas também soluções práticas que já acontecem em território nacional, e a Amazônia é um exemplo dessa força.

Ao consolidar investimentos regionais, estimular parcerias com organizações locais e abrir canais de diálogo internacional, a Binatural reforça sua visão de que a transição energética não se faz apenas com tecnologia, mas também com desenvolvimento social e territorial. A Amazônia, com sua diversidade de recursos e culturas, e o biodiesel, como biocombustível de base local e inclusiva, são duas faces de um mesmo projeto de futuro: uma economia brasileira mais sustentável, competitiva e alinhada aos desafios globais.

}
Loading...
pt_BR